11/11/23 - 01:39 | Atualizado em 11/11/23 - 01:39
Campi Flegrei, um supervulcão na Itália, está mostrando atividade sísmica preocupante. A definição de “supervulcão” é baseada em erupções passadas, mas isso não garante que elas acontecerão novamente no futuro. Mesmo com os medos existentes, é raro que erupções vulcânicas explosivas causem extinções em massa.
Na pitoresca região da Campânia, no sul da Itália, sob os vinhedos exuberantes e os relaxantes spas termais, um fenômeno geológico intrigante toma forma. Trata-se de um dos sistemas vulcânicos mais ativos do planeta, conhecido como Campi Flegrei.
Essa região, localizada nas proximidades de Nápoles, difere consideravelmente da imagem típica de uma montanha vulcânica. Em vez disso, apresenta-se como uma ampla depressão em forma de tigela, repleta de crateras vulcânicas.
É um lugar onde o vapor fétido se eleva de suas aberturas, onde lama borbulha em piscinas naturais e onde pequenos terremotos enviam sobressaltos através da terra, afetando a vida de centenas de milhares de moradores que residem na proximidade desse vulcão.
A mitologia local faz eco à sua natureza impressionante, nomeando-a como Campi Flegrei, que se traduz como “campos em chamas” em italiano, uma associação direta às portas do inferno.
Campi Flegrei
Campi Flegrei também carrega o rótulo, embora não oficial, de “Supervulcão”. Este termo é reservado a vulcões que produziram algumas das erupções mais intensas registradas na história da Terra. O evento mais notório da história de Campi Flegrei ocorreu aproximadamente 39 mil anos atrás, conforme datado a partir de registros geológicos.
Nessa ocasião, uma erupção colossal expeliu gases e quase um trilhão de galões de rocha derretida, lançando uma sombra sobre a terra, bloqueando a luz solar e desencadeando um período de resfriamento intenso.
Embora a erupção mais recente tenha sido muito menor ainda resultou na formação de uma montanha com cerca de 1538 metros de altura. Contudo, nos últimos meses, a região de Campi Flegrei tem sido palco de uma série de atividades sísmicas notáveis, com mais de 2.500 terremotos registrados desde setembro.
Essa agitação tem levantado preocupações legítimas de que o vulcão possa entrar em erupção novamente em grande escala. No entanto, vale ressaltar que os cientistas alertam que os supervulcões, como Campi Flegrei, não seguem um padrão previsível.
Supervulcão
Quando classificamos um vulcão como “supervulcão”, isso significa que ele experimentou pelo menos uma erupção em grande escala no passado. No entanto, essa classificação não implica necessariamente que novas super erupções ocorrerão no futuro. Erupções de tal magnitude são extremamente raras e estão distantes uma das outras em termos de tempo.
Os cientistas, por meio de métodos avançados, não conseguem observar diretamente os processos que ocorrem sob a superfície de Campi Flegrei. Contudo, especialistas como Christopher Kilburn, um vulcanologista da University College London, acreditam que a atividade sísmica recente pode ser atribuída ao movimento de magma e fluidos subterrâneos, que, por sua vez, se manifestam como terremotos perceptíveis na superfície.
Erupção Iminente
Importante salientar que a ocorrência de terremotos não é, por si só, um indicativo de uma erupção iminente. Em várias ocasiões no passado, Campi Flegrei apresentou deformações na superfície e atividade sísmica, sem que isso culminasse em uma erupção vulcânica. Entretanto, a natureza inusual da agitação recente após um longo período de inatividade justifica a cautela e o acompanhamento constante.
Dentre mais de 1.000 vulcões conhecidos ao redor do mundo, apenas cerca de 20 deles são considerados supervulcões. A classificação é determinada com base no Índice de Explosividade Vulcânica, que varia de V0 (erupções não explosivas) a V8 (erupções colossais).
As super erupções liberam um volume de cerca de 1.000 quilômetros cúbicos ou mais, o que é aproximadamente mil vezes maior do que a erupção do Monte St. Helens (V5) em 1980, que resultou em deslizamentos de terra, incêndios, inundações e perda de vidas.
Erupções Colossal
A última erupção classificada como V8 ocorreu há aproximadamente 27.000 anos, na região de Taupo, na Nova Zelândia. Essas erupções de proporções extremas costumam criar caldeiras, uma característica geológica que contrasta com os cones vulcânicos típicos.
Esse fenômeno ocorre porque as super erupções liberam uma quantidade massiva de material – rocha derretida que está armazenada a algumas milhas abaixo da superfície – em um período relativamente curto de tempo, o que torna o solo instável e causa afundamentos.
Embora as caldeiras sejam fenômenos notáveis em termos geológicos, muitas vezes elas não se destacam visualmente no terreno. São características que podem passar despercebidas por um observador comum, já que as mudanças de relevo são frequentemente sutis.
Após uma super erupção, quando a atividade vulcânica em grande escala cessa, o vulcão entra em um estado de relativa estabilidade e, em muitos casos, passa a produzir erupções de tamanho mais convencional. Isso significa que, após uma super erupção, um supervulcão deixa de ser “super” e não representa mais uma ameaça tão iminente quanto antes.
Yellowstone
Um dos exemplos mais conhecidos de supervulcão é o Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos. Essa região espetacular abrange cerca de 30 por 45 milhas e atrai milhões de turistas a cada ano.
A maior erupção registrada no vulcão de Yellowstone ocorreu há aproximadamente 2,1 milhões de anos, liberando mais de 2.400 quilômetros cúbicos de material. Entretanto, a maioria das erupções subsequentes na região tem sido de tamanho consideravelmente menor.
Curiosamente, o termo “supervulcão” é considerado, por alguns especialistas, uma palavra inventada. Michael Poland, vulcanologista e cientista responsável pelo Yellowstone Volcano Observatory, compartilha essa visão. Ele acredita que o termo é enganoso e frequentemente mal interpretado.
Para muitos, Michael Poland evoca uma imagem de uma catástrofe apocalíptica, mas, de acordo com o entendimento científico atual, nenhuma erupção vulcânica explosiva foi associada a uma extinção em massa de vida na Terra.
Vulcão da Indonésia
O maior evento vulcânico já registrado ocorreu em Toba, na Indonésia, aproximadamente 74.000 anos atrás, alcançando a classificação V8 na escala de explosividade vulcânica.
Inicialmente, alguns cientistas especularam que essa erupção teria levado à quase extinção da humanidade, uma vez que as populações humanas declinaram após o evento.
No entanto, evidências arqueológicas subsequentes desafiaram essa teoria, demonstrando que populações humanas distantes da erupção continuaram a prosperar.
Em resumo, não existe evidência de que uma erupção vulcânica explosiva tenha causado uma extinção em massa de plantas ou animais na história da Terra.
Embora uma super erupção seja um evento devastador e desafiador, é importante manter uma perspectiva equilibrada sobre o assunto.
Realidades dos Supervulcões
Quando se trata de Campi Flegrei e de outros supervulcões, os cientistas permanecem céticos sobre a possibilidade de uma nova super erupção.
É incerto se Campi Flegrei possui magma derretido suficiente sob sua caldeira para desencadear uma erupção. No entanto, dada a densa população que reside nas proximidades da região, as autoridades locais monitoram atentamente a atividade vulcânica e têm planos de evacuação prontos para serem acionados, caso necessário.
As autoridades locais não estão prevendo uma super erupção em Campi Flegrei no futuro próximo, mas a vigilância constante e a prontidão são essenciais para a segurança daqueles que vivem na área. Não se trata de uma probabilidade, mas de uma medida responsável e necessária.
Portanto, enquanto o mundo se maravilha com a beleza e a complexidade dos supervulcões, a compreensão científica contínua e o planejamento de contingência são os pilares da proteção para as comunidades que vivem próximas a esses fenômenos naturais.
CRÉDITOS
Por: Edivaldo de Carvalho — Jornalista e Repórter da Digital Press Brasil — MTB: 0040977/ Rio de Janeiro. Foto: Reprodução/Daniel Enchev/Flickr (CC BY-ND 2.0 DEED). | Italy, Solfatara (Campi Flegrei). |
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