28/09/23 - 12:06 | Atualizado em 11/04/24 - 11:50
O governo brasileiro optou por reduzir a compra de caças Gripen, diminuindo a frota planejada de 66 para 50 unidades, com o objetivo de acelerar o processo de aquisição e possibilitar negociações adicionais, incluindo a venda de aeronaves militares KC-390 para a Suécia. Essa decisão visa otimizar recursos e atender às necessidades estratégicas da Força Aérea Brasileira.
O governo brasileiro tomou uma decisão estratégica ao ajustar seu plano de expansão da frota de caças Saab Gripen, reduzindo-a de 66 para 50 unidades. Essa medida visa aprimorar a eficiência do processo de aquisição, recorrendo a um aditivo ao contrato existente com a Suécia para a compra dessas aeronaves.
Paralelamente, o Brasil está em negociações avançadas para vender até quatro aeronaves de transporte militar Embraer KC-390 para a Suécia.
O Ministério da Defesa brasileiro está em discussões internas para finalizar esse arranjo, que ainda não foi oficialmente apresentado às autoridades suecas.
O ministro da Defesa, José Mucio, anunciou sua intenção de viajar a Estocolmo no próximo mês para tratar da venda dos KC-390, embora não tenha divulgado detalhes específicos sobre a proposta.
De acordo com o acordo atual, o Brasil tem a opção de aumentar seu pedido atual de caças, que é de 36 unidades, dentro dos limites estabelecidos, com um aditivo que não exceda 25% do valor inicial da compra.
Esse valor equivale a 39,3 bilhões de coroas suecas, cerca de R$ 17,7 bilhões na taxa de câmbio atual, representando um potencial gasto adicional de mais R$ 4,5 bilhões pelo Estado brasileiro.
Mudança estratégica
Inicialmente, a Força Aérea Brasileira (FAB) planejava adquirir uma frota de 66 aeronaves Gripen, o que teria exigido a negociação de um novo contrato complexo. Portanto, a opção por um aditivo para um pedido menor foi considerada mais viável.
Até o momento, o Brasil recebeu seis aeronaves Gripen E, duas a menos do que o previsto pela FAB, um atraso considerado dentro dos padrões aceitáveis. Para viabilizar o aditivo e manter o equilíbrio financeiro, podem ser necessários cortes adicionais nos custos.
Foco na produção
Essa mudança nos planos também afetou a produção no Brasil, onde inicialmente, pelo menos oito das 36 aeronaves seriam do modelo F, de dois lugares, desenvolvido em parceria pela Saab e pela brasileira Embraer. No entanto, foi decidido concentrar a linha de produção brasileira exclusivamente no modelo E, que é menos complexo.
Além disso, a produção no Brasil fornecerá peças para a montagem na Suécia. Essa decisão foi baseada em razões econômicas, já que não faz sentido expandir a operação brasileira para a fabricação de uma aeronave que ainda não possui compradores externos além do Brasil.
Caças Gripen
A Suécia já encomendou 60 unidades do modelo E e planeja aumentar esse número devido às mudanças no ambiente de segurança europeu após a Guerra da Ucrânia.
No entanto, eles ainda não solicitaram o modelo biposto F, pois todo o treinamento para operar essa nova geração é realizado em aeronaves de dois lugares da geração anterior, a D, e em simuladores de voo.
Além da questão dos caças, há outras negociações em andamento, incluindo sistemas embarcados, armamentos, pacotes de serviço e programas de offset (compensação industrial).
Venda de KC-390
O governo brasileiro está buscando alinhar todas essas negociações com a venda dos KC-390 para a Suécia. Essa aeronave tem recebido uma boa receptividade no mercado europeu, que é altamente competitivo e dominado por cerca de 140 cargueiros americanos C-130 Hércules em diferentes estados de envelhecimento.
Recentemente, a Embraer fechou acordos para a venda de até quatro aviões KC-390 para a Áustria, além de vendas para Portugal, Holanda e Hungria. Todos esses países têm laços próximos com a OTAN ou estão em sua proximidade.
A Suécia também está em processo de busca por adesão à OTAN, enfrentando restrições temporárias da Turquia e Hungria por questões políticas.
Em abril deste ano, a Saab e a Embraer assinaram um memorando para oferecer o KC-390 ao governo sueco. Dada a situação da Saab no mercado europeu, com desafios decorrentes da competição com o americano F-35, uma parceria mais sólida com o Brasil faz sentido.
Mercado e parcerias
Embora o número de caças a serem adquiridos seja menor do que o inicialmente planejado, a venda acelerada pode sinalizar vitalidade no mercado e atrair outros potenciais clientes, como a Colômbia.
Atualmente, a Suécia opera seis aeronaves Hércules, uma delas com capacidade de reabastecimento de caças. O KC-390, por outro lado, oferece essa funcionalidade e possui maior capacidade de carga.
Ele também é comercializado sem a capacidade de reabastecimento, sendo denominado C-390 para fins de identificação, onde “C” representa transporte e “K” representa avião-tanque.
Coordenação estratégica
O ministro José Mucio, responsável pela Defesa, pretende coordenar todas essas iniciativas na Suécia, o que poderia ser politicamente benéfico para o governo brasileiro, ao agregar um potencial ganho para o país em uma despesa significativa.
Além disso, a FAB contribuiu financeiramente para o desenvolvimento do KC-390 e possui direito a 3,2% de royalties a cada exportação dessa aeronave, cujo valor dependerá do pacote de equipamentos, manutenção e pós-venda.
A previsão de receita com as vendas para a Holanda, por exemplo, varia de R$ 5 bilhões a R$ 13 bilhões, enquanto a Hungria pagou R$ 730 milhões por suas aeronaves.
Resolução de desavenças
Essa estratégia conjunta entre a Força Aérea Brasileira (FAB) e a Embraer parece ser um passo importante na resolução de desavenças decorrentes da revisão traumática dos termos do acordo de compra dos KC-390, que resultou na redução do pedido de 28 para 19 aeronaves no ano passado. Ambas as partes não saíram completamente satisfeitas desse processo.
Com essa decisão estratégica, o governo brasileiro busca otimizar seus recursos e fortalecer parcerias internacionais, abrindo portas para um futuro promissor na indústria aeroespacial e de defesa.
A flexibilidade demonstrada nas negociações pode ser um trunfo importante para o país à medida que navega em um cenário geopolítico em constante evolução.
CRÉDITOS
Por: Edivaldo de Carvalho — Jornalista e Repórter da Digital Press Brasil — MTB: 0040977/ Rio de Janeiro. Foto: Reprodução/Ricardo Stuckert/PR/Agência Brasil (CC BY 4.0). |
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